Pesquisadores argentinos divulgaram nesta semana, através de relatório,
argumentos que chamam a atenção para a suspeita de que um componente químico
conhecido como Pyriproxyfen, de larvicida utilizado na água e recomendado pelo
Ministério da Saúde brasileiro para combater o Aedes aegypti, pode ter relação
direta com a microcefalia, segundo informa o jornal Zero Hora.
O larvicida é produzido pela Sumitomo Chemical, um "parceiro
estratégico" da multinacional Monsanto, sediada nos EUA. Ele é utilizado
em tanques de água potável desde 2014 no Brasil, em regiões com saneamento
básico carente, como no Nordeste, região de maior incidência de microcefalia.
O Pyriproxyfen passou a ser utilizado depois que o larvicida anterior,
Temephos, se mostrou ineficiente contra o mosquito.
Os cientistas argentinos, no relatório, questionam o porquê de outras
epidemias de zika ao redor do mundo não terem sido associadas a problemas
congênitos em recém-nascidos. Outro argumento sobre as suspeitas existe outro
fator além do zika vírus em relação à microcefalia é que na Colômbia,
vice-colocado no ranking de infectados, três mil grávidas foram contaminadas,
mas nenhum caso de microcefalia relacionada à doença foi registrado.
"Não é coincidência", diz o relatório sobre as má-formações
encontradas em recém-nascidos de grávidas que moram em locais onde o
Pyriproxyfen passou a ser utilizado na água.
A Assessoria de Comunicação Social da Sumitomo Chemical, fabricante do
pesticida Pyriproxyfen, esclarece que não há nenhuma base científica em tal
afirmação. O fabricante enviou nota esclarecendo que o produto tem aprovação
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em campanhas de
saúde pública, como “inseticida-larvicida, controlando vetores de doenças,
dentre os quais mosquitos Aedes aegypti, Culex quinquefasciatus e mosca
doméstica”. Desde 2004, é registrado e o Governo brasileiro o vem utilizando
como inseticida-larvicida no combate ao Aedes aegypti. Pyriproxyfen também é
registrado para o combate do Aedes aegypti em países como Turquia, Arábia
Saudita, Dinamarca, França, Grécia, Holanda, Espanha. Na América Latina,
República Dominicana e Colômbia vêm utilizando o produto desde 2010.
O fabricante também informa que Pyriproxyfen é aprovado pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) para combate a mosquitos, dentre eles o Aedes Aegypti.
Segundo a OMS, em seu documento Pyriproxyfen in Drinking-water, publicado em
2004 - também publicado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
(EPA) em 2001 -, o Pyriproxyfen não é mutagênico, não é genotóxico, não é
carcinogênico nem teratogênico. O produto foi submetido a rigorosos testes
toxicológicos que não demonstraram efeitos sobre a reprodução, sobre o sistema
nervoso central ou periférico.
A assessoria ressaltou ainda que a Sumitomo, ao longo de seus mais de
100 anos de história, tem pautado sua atuação pelo rigor científico e respeito
ao meio ambiente e a saúde da população e reafirma a confiança na segurança de
seus produtos.
O Ministério da Saúde (MS), por sua vez, afirma que não existe nenhum
estudo epidemiológico que comprove a associação do uso de pyriproxifen e a
microcefalia. O MS somente utiliza larvicidas recomendados pela Organização
Mundial de Saúde (OMS). Os produtos passam por um rigoroso processo de
avaliação da World Health Organization Pesticed Evaluation Scheme (WHOPES).
O pyriproxifen está entre os
produtos aprovados por esse comitê e também possui certificação pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que avalia a segurança do larvicida
no Brasil.
Ao contrário da relação entre o vírus Zika e a microcefalia, que já teve
sua confirmação atestada em exames que apontaram a presença do vírus em
amostras de sangue, tecidos e no líquido amniótico, a associação entre o uso
de pyriproxifen e a microcefalia não
possui nenhum embasamento cientifico. É importante destacar que algumas
localidades que não utilizam o pyriproxifen também tiveram casos de
microcefalia notificados.
A Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS), como
autoridade de saúde local, tem autonomia para utilizar o produto adquirido e
distribuído pelo Ministério da Saúde ou desenvolver estratégias alternativas.
Cabe ressaltar que o Ministério da Saúde somente recomenda a utilização
de larvicidas em situações especiais, onde há necessidade de armazenamento de
água e os depósitos não podem ser protegidos fisicamente.
É importante lembrar que para erradicar o Aedes aegypti e todos os seus
possíveis criadouros, é necessária a adoção de uma rotina com medidas simples
para eliminar recipientes que possam acumular água parada. Quinze minutos de
vistoria são o suficiente para manter o ambiente limpo. Pratinhos com vasos de
planta, lixeiras, baldes, ralos, calhas, garrafas, pneus e até brinquedos podem
ser os vilões e servir de criadouros para as larvas do mosquito. Outras
iniciativas de proteção individual também podem complementar a prevenção das
doenças, como o uso de repelentes e inseticidas para o ambiente.
Do Diário de Pernambuco
Imagem reprodução da internet
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